Muitas orquídeas são consideradas raridades botânicas, plantas que encerram em si alguns mistérios. Alguns fatores, como os lugares exóticos onde habitam, as suas formas estranhas e hábitos de vida muito diferentes das “normais” plantas de jardim, despertam o imaginário de qualquer um. Mas existem outras características que elevam algumas plantas ao estatuto de preciosidade botânica, como é o caso da Brasiliorchis schunkeana. A sua estranha cor dá-lhe uma magia própria. Esta é a verdadeira orquídea negra.
O cognome foi utilizado de variadas formas na cultura e na arte mundial desde que no século XVIII a paixão pelas orquídeas se alastrou pela Europa. Vários romances literários mencionaram uma “Orquídea negra”, que era representada de várias formas e tamanhos e foram-lhe atribuídos poderes místicos e muitas vezes sobrenaturais. Na banda desenhada, em 1973, uma personagem com esse nome voou nos céus de Gotham City, ao lado de Batman. Também na música a “Orquídea negra” foi mencionada sempre com alusões ao exotismo e raridade.
Tudo resultando da imaginação do ser humano pois só em 1993 o alemão Vital Schunk descobriu, perto de Santa Leopoldina, no estado do Espirito-Santo, no Brasil, a orquídea que corresponderia ao epíteto criado muito antes de esta ser conhecida.
Habitat e características
O habitat desta espécie são as florestas húmidas a altitudes entre os 600 – 700m da mata atlântica brasileira. São plantas epífitas, crescem agarradas aos troncos e ramos das árvores, tem crescimento simpodial, são constituídas por pequenos pseudobolbos fusiformes, cada um com duas folhas finas. A planta tem um porte muito pequeno, cresce entre os 10 – 15 cm. Da zona basal do pseudobolbo desenvolvem-se as flores, uma única flor por haste e cada flor não mede mais do que 1,5cm.
Sim. É verdade. A orquídea negra não mede mais do que 1,5cm. Não se deixem enganar pelas fotos que vos mostram. Esta seria uma orquídea que, não fosse a sua cor, passaria talvez despercebida do grande público ficando esquecida nos herbários dos museus e sendo cultivada apenas pelos orquidófilos colecionadores e de gostos mais específicos. No entanto, sendo “a orquídea negra” e tendo a seu favor a facilidade do seu cultivo, é hoje em dia uma orquídea indispensável em qualquer coleção e muito procurada tanto por amadores como por orquidófilos mais conhecedores.
Tendo sido classificada inicialmente como Maxillaria schunkeana (ou M. schunkiana), nome que ainda é muito utilizado, passou no entanto para o género Brasiliorchis em 2007, quando o género Maxillaria foi revisto à luz de novos estudos.
O Cultivo
Sendo uma planta relativamente pequena, pode ser cultivada tanto em vaso como montada numa placa de cortiça. Eu prefiro cultiva-la num vaso ou numa pequena taça onde é mais fácil manter a humidade que esta espécie aprecia.
A planta gosta de ambientes mais quentes ou temperados mas pode adaptar-se a temperaturas mais frias. Não gosta de luz forte e nunca deverá ser exposta a sol direto. Um local mais sombrio é o ideal. Como substrato utilizo uma mistura para epífitas (casca de pinheiro média/fina com fibra de coco) onde se junta alguma perlite ou musgo de esfagno para manter o substrato mais húmido sem no entanto deixarmos acumular demasiada água nas raízes.
É uma planta que não gosta de ser mexida, reenvasada ou dividida. Muitas vezes parece que amua e não quer florir mas assim que atingimos as condições ideais de cultivo podemos ter várias flores abertas em simultâneo e várias vezes ao ano. As flores duram cerca de 2 semanas abertas.
A Cor Negra
A Brasiliorchis schunkeana na verdade não tem uma cor verdadeiramente preta mas sim um vermelho-púrpura escuro que, dependendo da intensidade da luz, poderá parecer mais ou menos escura. É no entanto, na natureza, a orquídea mais escura que podemos encontrar, merecendo o mérito de ser a verdadeira orquídea negra.
Hoje em dia, com as hibridações, podemos já encontrar outras orquídeas também bastante escuras e algumas até mais negras que a Brasiliorchis schunkeana. O Catasetum Fredclarkeara ‘After Dark’ é um dos melhores exemplos mas existem também Mormodes, Vanda e o famoso Cymbidium Kiwi Midnight ‘Geyserland’, que também não é tão negro como o pintam.